Parlamentares do Brasil devem ir aos EUA para estreitar relação

Donald Trump anuncia taxação sobre produtos brasileirosCasa Branca/Reprodução

Os Estados Unidos anunciaram, nesta quarta-feira (9), que produtos brasileiros serão taxados em 50%. Donald Trump enviou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) informando sobre a nova taxa, que vai entrar em vigor em 1º de agosto.

Entre as justificativas para o aumento das tarifas contra o Brasil, a carta cita também o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

“Conheci e me relacionei com o ex-presidente Jair Bolsonaro e o respeitei profundamente, assim como a maioria dos outros líderes mundiais”, destacou Trump.

“A forma como o Brasil tem tratado o ex-presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato — inclusive pelos Estados Unidos — é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar acontecendo. É uma caça às bruxas que deve acabar imediatamente”, defendeu o presidente dos EUA.

Trump já havia saído em defesa de Bolsonaro no início desta semana. Na segunda-feira, por meio de sua rede Truth Social, o presidente dos EUA falou sobre o julgamento do STF sobre uma suposta tentativa para impedir a posse do presidente Lula, que resultou nos ataques de 8 de janeiro de 2023.

Bolsonaro é réu na ação que apura a tentativa de golpe de Estado. Sobre isso, Trump chamou de “caça às bruxas” o julgamento no Supremo. “O único julgamento que deveria estar acontecendo é um julgamento pelos eleitores do Brasil — chama-se eleição. Deixe Bolsonaro em paz”, alegou o presidente norte-americano.

Após a declaração de Trump a favor de Bolsonaro, a embaixada dos EUA emitiu, nesta quarta-feira (9) uma nota reforçando o posicionamento do presidente norte-americano.

“Jair Bolsonaro e sua família têm sido fortes parceiros dos Estados Unidos. A perseguição política contra ele, sua família e seus apoiadores é vergonhosa e desrespeita as tradições democráticas do Brasil”, disse o comunicado.

Reação da Oposição

A embaixada ainda ressaltou que está “acompanhando de perto a situação” de Bolsonaro. A declaração foi comemorada pela oposição no Congresso. O deputado Filipe Barros (PL) chamou de “injustiças sem precedentes” as acusações contra o ex-presidente do Brasil.

“A contundente manifestação de Trump escancara aos quatro cantos do planeta as injustiças sem precedentes que estão sendo executadas no Brasil contra Jair Bolsonaro e a população que defende suas bandeiras”, disse.

Barros ainda parabenizou o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL), filho do ex-presidente, que está nos Estados Unidos e tem atuado junto a autoridades norte-americanas para impor sanções contra o ministro do STF, Alexandre de Moraes.

“Graças ao intenso trabalho do Eduardo Bolsonaro, Trump também reverbera ao mundo que, em 26, eleição sem Bolsonaro é a consumação do atentado hoje em curso contra a democracia do País”, opinou.

Governo Lula reage

As declarações de Trump e da embaixada dos EUA, por outro lado, incomodaram o presidente Lula. O Itamaraty convocou, no final desta tarde, o encarregado de negócios dos EUA em Brasília, Gabriel Escobar, para tratar sobre o apoio do país a Bolsonaro.

“Donald Trump está muito equivocado se pensa que pode interferir no processo judicial brasileiro. O tempo em que o Brasil foi subserviente aos EUA foi o tempo de Bolsonaro, que batia continência para sua bandeira e não defendia os interesses nacionais. Hoje ele responde pelos crimes que cometeu contra a democracia e o processo eleitoral no Brasil”, escreveu a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, em seu perfil no X.

A ministra de Lula disse que não se pode falar em perseguição contra Bolsonaro e que Trump precisa respeitar a soberania brasileira.

“Não se pode falar em perseguição quando um país soberano cumpre o devido processo legal no estado democrático de direito, que Bolsonaro e seus golpistas tentaram destruir. O presidente dos EUA deveria cuidar de seus próprios problemas, que não são poucos, e respeitar a soberania do Brasil e de nosso Judiciário”, acrescentou.

Base de Lula critica tarifaço

Parlamentares e políticos aliados do presidente Lula reagiram às medidas anunciadas por Trump. O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin disse considerar injustas as tarifas anunciadas, mas garantiu que o governo brasileiro vai manter uma postura diplomática em relação aos EUA.

“Eu não vejo nenhuma razão para aumento de tarifa em relação ao Brasil. O Brasil não é problema para os EUA, é importante sempre reiterar. Os EUA realmente têm um déficit de balança comercial, mas com o Brasil têm superavit. Dos 10 produtos que mais exportam para nós, oito têm alíquota zero, não pagam imposto”, argumentou o vice-presidente, responsável pelo Comércio Exterior.

Para Alckmin, a decisão de Trump prejudica os próprios EUA. “É uma medida que, em relação ao Brasil, é injusta e prejudica a própria economia americana, porque há uma integração na área comercial. Vamos pegar o caso do aço: nós somos o terceiro comprador do carvão siderúrgico americano. Fazemos o produto semi elaborado e vendemos para os EUA, que finalizam. Então, ao taxar, eles encarecem a própria cadeia”, completou.

O ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta (PT), criticou os apoiadores do presidente dos EUA que, segundo ele, trabalham contra o Brasil.

“Vira-latas é o que são todos aqueles que se aliam a Donald Trump contra os interesses brasileiros. Os ditos patriotas são verdadeiros covardes, quintas-colunas que agem contra a soberania nacional”, declarou, em discurso na Câmara dos Deputados, onde ocupa uma cadeira.

O líder do Partido dos Trabalhadores (PT) na Câmara, deputado Lindbergh Farias (PT), convocou uma coletiva de imprensa após o anúncio da taxação. A jornalistas, no salão verde da Casa Baixa, classificou como gravíssima a decisão de Trump e defendeu a soberania brasileira.

“Toda a justificativa para retaliar o Brasil é política, numa tese de defesa do Bolsonaro como perseguido político. Os vira-latas bolsonaristas conseguiram. Penso que Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro e Tarcísio devem estar muito felizes em prejudicar o Brasil, nossa economia e nossos empregos. Nós defendemos o Brasil e nossa soberania. Eles são uns traidores”, criticou o deputado.

O senador Humberto Costa (PT), ex-presidente nacional do PT, também defendeu a soberania nacional e atribuiu o tarifaço às ações do clã Bolsonaro nos EUA.

“Bolsonaro bate continência para a bandeira dos EUA e, junto com a sua turma, veste o boné de Trump, o cara que prejudica o Brasil com sobretaxas exorbitantes. Ele anunciou tarifa de 50% para o que exportamos para lá. Isso é o bolsonarismo: jogar e torcer contra o Brasil”, declarou.

O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT), pediu respeito ao Brasil. “A pedido da família Bolsonaro, Donald Trump anuncia a taxação de 50% em todos os produtos brasileiros, de forma autoritária e unilateral. O presidente norte-americano está confundindo a quem está se dirigindo. O Brasil não será quintal do país de ninguém. Quem decide a nossa vida somos nós. Que fique claro: o Brasil é dos brasileiros e não de capachos”, defendeu.

Parlamentares devem ir aos EUA

Uma comitiva de parlamentares deve ir aos Estados Unidos em setembro, para tentar estreitar as relações do país norte-americano com o Brasil. Diante do anúncio desta quarta-feira (9), as Comissões de Relações Exteriores (CRE) da Câmara dos Deputados e do Senado reafirmaram o compromisso com a diplomacia parlamentar.

Em março, o encarregado de negócios dos EUA em Brasília, Gabriel Escobar, visitou a CRE do Senado e sugeriu uma viagem oficial dos parlamentares brasileiros a Washington como um instrumento de coordenação entre os dois países. Essa missão está prevista para setembro e deve ser liderada pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores, senador Nelsinho Trad (PSD).

A comitiva será formada por três senadores e três deputados. Os nomes ainda não foram definidos, mas Trad está articulando para escolher os integrantes, em conformidade com líderes partidários do Congresso Nacional. Quando houver definição, a lista será enviada a Escobar.

O vice-presidente Geraldo Alckmin já foi informado sobre a missão oficial, já que ele tem atuado como o principal porta-voz do Brasil sobre as tarifas e lidera, enquanto ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, um grupo no ministério que acompanha os desdobramentos da relação com os EUA.

“O Legislativo brasileiro tem papel relevante na construção de relações exteriores estáveis, responsáveis e coerentes com os princípios da soberania, do multilateralismo e da cooperação”, afirmou Trad, por meio de nota.

“Mantemos uma interlocução franca e respeitosa com a representação diplomática dos Estados Unidos no Brasil”, acrescentou.

O senador defendeu que medidas comerciais, como a taxação das importações brasileiras, “devem ser tratadas com responsabilidade e dentro dos marcos do direito internacional”.

“A Comissão de Relações Exteriores seguirá atuando com equilíbrio para manter canais abertos com todos os parceiros estratégicos, ao mesmo tempo em que contribui para a ampliação da rede brasileira de alianças e acordos internacionais”, garantiu o presidente da CRE no Senado.

A viagem está prevista para setembro por conta do recesso parlamentar. No próximo dia 17, o Congresso Nacional vai fazer uma pausa e retorna em agosto. Também está sendo levado em consideração o período de férias nos EUA. Após a retomada dos trabalhos em ambos os países, a comitiva deve ser formada e oficializada.

O presidente da CRE da Câmara, deputado Filipe Barros (PL) também deve ir aos EUA ainda neste ano. Ainda não há confirmação se ele fará parte da comitiva liderada por Trad, mas foi confirmado ao Portal iG que existe a intenção, por parte do parlamentar, de retornar ao país norte-americano neste segundo semestre de 2025, para tratar sobre a relação entre os países e as tarifas. “Data e maneira como será a missão, ainda a definir”, disse uma pessoa próxima ao congressista.

Relação Brasil-EUA está no radar do Congresso

A escalada da tensão entre os EUA e o Brasil está no radar do Congresso Nacional desde o início deste ano, quando Trump tomou posse como presidente.

O tema do comércio exterior está sendo acompanhado por um grupo de trabalho técnico vinculado à Comissão de Relações Exteriores do Senado, que orienta as discussões e medidas adotadas dentro do colegiado. Esse grupo já estabeleceu interlocução com o vice-presidente Geraldo Alckmin, que também coordena um grupo voltado especificamente para essas questões.

Alckmin, inclusive, já realizou tratativas com os Estados Unidos e tem prestado suporte técnico às ações do grupo da Comissão. Com isso, as tratativas estão em andamento, em um esforço conjunto entre o Congresso e o Executivo para alinhar estratégias na área de comércio internacional.

No âmbito da CRE da Câmara, a iminência da taxação por parte dos EUA ao Brasil também está no centro do radar do colegiado, em especial do presidente Filipe Barros. Desde que assumiu o cargo, em abril, o deputado tem atuado no campo da diplomacia parlamentar, incluindo uma missão oficial aos Estados Unidos no início do ano, onde se reuniu com o presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes norte-americana para estreitar laços institucionais.

Apesar do esforço no Legislativo, Barros tem manifestado críticas ao que considera atitudes equivocadas do próprio governo federal, que, na visão dele, deveria liderar a resolução do impasse.

“Existe, hoje, uma percepção de que o Lula está reiteradamente provocando o governo dos Estados Unidos, se alinhando a países do chamado eixo do mal, que são aqueles que são inimigos dos Estados Unidos. Isso não traz qualquer tipo de benefício para o povo brasileiro, esse alinhamento ideológico do Lula”, opinou o deputado.

Na visão de Filipe Barros, o Brasil adotou uma postura ideológica nas eleições norte-americanas ao apoiar a então vice-presidente Kamala Harris, opositora de Donald Trump na corrida eleitoral. Além disso, o episódio envolvendo a primeira-dama brasileira, Rosângela da Silva, que teria xingado Elon Musk — figura ligada ao entorno político de Trump à época —, foi considerado um gesto diplomático negativo e criou mais uma rusga na relação com o governo norte-americano.

O deputado ainda criticou que, após a vitória de Trump, o governo brasileiro não tomou nenhuma iniciativa concreta de aproximação ou diálogo com a nova administração norte-americana, nem durante a transição de governo, nem após a posse.

A avaliação é de que esses episódios ajudaram a deteriorar o relacionamento entre os dois países, resultando em um distanciamento que poderia ter sido evitado com uma postura mais diplomática e estratégica por parte do Brasil.

“Tudo isso faz com que hoje, infelizmente, não haja uma relação entre os dois países, por conta da postura do presidente Lula. O Brasil e os Estados Unidos têm relações profundas, históricas, de amizade e relações comerciais, é um parceiro comercial importante para o Brasil, que nós não podemos simplesmente desperdiçar. Então essa postura errônea do presidente Lula faz com que não haja nenhum tipo de diálogo com o governo Trump”, disse o deputado ao iG.

Câmara aprova moção de louvor ao Trump

Ao passo que os EUA anunciaram a taxação contra o Brasil, a CRE da Câmara aprovou, nesta quarta-feira (9), uma moção de louvor e regozijo ao presidente norte-americano. A proposta de homenagem foi apresentada no mesmo dia em que Trump fez a publicação nas redes sociais em apoio a Bolsonaro

O requerimento, apresentado pelos deputados Gustavo Gayer, Luiz Philippe de Orleans e Bragança e Sóstenes Cavalcante, todos do Partido Liberal (PL), do qual Bolsonaro é integrante, ressalta a trajetória Trump como justificativa para a homenagem.

“O Excelentíssimo Senhor Donald John Trump, presidente dos Estados Unidos da América, merece essa justa moção de Louvor e Regozijo pelo brilhante trabalho desenvolvido como Presidente da maior nação e pela incansável luta em defesa da democracia e da liberdade de expressão em todo o planeta”, ressalta o requerimento aprovado.

No documento, os deputados ainda enalteceram a decisão de Trump de realizar “diversos cortes de impostos” e por ter concedido anistia aos envolvidos no ataque ao Capitólio em janeiro de 2021.

“O 45º Presidente dos Estados Unidos da América deve ser enaltecido e lembrado como um dos melhores presidentes do mundo e exemplo a ser seguido para a implementação e manutenção de uma democracia moderna e justa”, conclui o requerimento.

Apesar da aprovação da moção de louvor, parlamentares da oposição pediram cautela nas tratativas sobre as tarifas. Após o anúncio da taxação, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) manifestou preocupação com a decisão de Trump e ressaltou que a medida “representa um alerta ao equilíbrio das relações comerciais e políticas entre os dois países”

“A nova alíquota produz reflexos diretos e atingem o agronegócio nacional, com impactos no câmbio, no consequente aumento do custo de insumos importados e na competitividade das exportações brasileiras. Diante desse cenário, a FPA defende uma resposta firme e estratégica: é momento de cautela, diplomacia afiada e presença ativa do Brasil na mesa de negociações”, reforçou o grupo de parlamentares.

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