Fernanda Abreu disseca álbum definidor de sua carreira em doc

Da Lata 30 Anos – O DocumentárioDivulgação

RESENHA DE DOCUMENTÁRIO

Título: Da Lata 30 anos – O Documentário

Direção: Paulo Severo

Roteiro: Paulo Severo e Fernanda Abreu

Trilha Sonora: Tuto Ferraz

Fotografia: Renato Carlos

Produção: Garota Sangue Bom e TV Zero

Apoio: Universal Music e Cobogó Editora

Cotação: ★ ★ ★ ★ ★ (ÓTIMO)

Evento comum no mercado musical, a comemoração de efemérides costuma inspirar a produção de shows e a edição de produtos prontos para celebrar legados ou memórias de artistas com (alguma) exposição Brasil afora. 

A moda sempre esteve aí e, nesta última década, se alastrou pelo mercado fonográfico com uma série de espetáculos pensados para ativar a memória afetiva do público sobre o lançamento de algum disco, a princípio, de larga importância.

É o caso de nomes como Pitty e Céu, que caíram na estrada para cantar os repertórios de seus álbuns de estreia 20 anos após as edições originais. É movimento comum e que rende dividendos capazes de manter a roda viva do mercado fonográfico girando.

Constantemente nadando contra a maré mercadológica, Fernanda Abreu lança Da Lata 30 Anos – O Documentário, filme que marca a comemoração das três décadas de Da Lata, título mais significativo de sua discografia, e que contou com sessão de pré-estreia em São Paulo na noite de segunda-feira (10) no Espaço Petrobrás de Cinema.

Sob a direção de Paulo Severo, que assina o roteiro ao lado da cantora, Da Lata 30 Anos é documentário que já nasce importante, seja pelo trabalho de pesquisa e preservação das imagens de bastidores da gravação do álbum – registrados pelo próprio Severo há três décadas -, seja pela fluência de um roteiro que prioriza a dissecação da produção do álbum.

O filme ouve a todos que tiveram participação no processo de gravação, desde o surgimento de algumas composições até a divulgação final, passando pela escolha de músicos, mixagem e produção de capa. Tudo está documentado em um filme que jamais resulta enfadonho ou irregular. 

O que aparece na tela resulta realmente importante para a plena compreensão do porquê Da Lata não é apenas um álbum divisor de águas na carreira de Fernanda Abreu, mas também pedra fundamental da música pop do Brasil.

Fernanda Abreu em depoimento ao doc. Da LataReprodução

Por meio de depoimentos (presumivelmente) elogiosos é possível montar o quebra-cabeças que forma o mosaico da música dançante no Brasil de 1995. É ótima a lembrança de que executivos da gravadora EMI não tinham plena confiança na viabilidade comercial do álbum, que creditavam como um projeto de samba; ou ainda as lembranças sobre os estranhamentos entre os produtores Liminha e Will Mowat, pilotos do disco.

A história de como Mowat, então integrante e produtor do grupo britânico Soul II Soul, chegou a Abreu é outro ponto alto do documentário, assim como a lembrança de que a cantora precisava fazer meios de campo enquanto se impunha como verdadeira dona do álbum.

Motor propulsor de todo o processo, Abreu surge como figura agregadora responsável por realizar o irrealizável, como contornar os problemas orçamentários diretamente com a então major EMI (representada na tela pelo então diretor artístico João Augusto).

O apuro técnico e artístico da cantora que sempre saltou aos ouvidos em sua discografia, salta também aos olhos neste documentário que narra parte de sua trajetória como bailarina filha de sambistas, passando por sua passagem meteórica pela banda Blitz entre 1982 e 1986 e pela edição de seu primeiro disco solo, Sla Radical Dance Disco Club, em 1990.

Foto de divulgação do álbum Da LataWalter Carvalho

Direta e profissional, a cantora construiu laços criativos com toda a equipe, o que permite que os depoimentos sejam também diretos e profissionais, evitando bajulações e adulações desnecessárias – mérito do trabalho de direção bastante sagaz de Severo. 

São estes depoimentos que permitem saber, por exemplo, sobre a tensão que a coreógrafa Deborah Colker por vezes enfrentava com o diretor musical e com os músicos durante o processo de montagem do show, responsável por expandir o som e a poesia urbana de Abreu, que, em suas próprias palavras, produzira um disco de temática essencialmente carioca.

De fato, há um retrato do Rio de Janeiro impresso em Da Lata. Ao longo de 13 faixas é possível compreender como as tensões sociais, econômicas, políticas e de segurança pública de então já foram responsáveis pelo racha da cidade para além da dicotomia morro-asfalto.

Lançado em 1995, Da Lata foi álbum divisor de águas na trajetória de Abreu. Embora a cantora já tivesse sentido o gosto do sucesso popular em sua faceta solo com a edição de Sla 2 Be Sample, cujos singles Jorge de Capadócia e Rio 40 Graus atingiram as rádios do Brasil com força, foi em Da Lata que a artista assinou seu nome na história da música popular e também ganhou uma alcunha para chamar de sua.

Foi a partir da edição do disco de 1995 que, para sempre, Fernanda Abreu se tornaria garota carioca de suingue sangue bom que sempre produziu sua música por ofício e não por vício mercadológico.

Acompanhado de livro com fotos de Walter Carvalho (que assina a capa original) e da edição de um vinil, Da Lata 30 Anos – O Documentário é a prova de que mesmo olhando para trás, Fernanda Abreu segue com as antenas ligadas, atenta ao futuro.

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