Um estudo publicado na Archaeological and Anthropological Sciences sugere que o pensamento criativo e artístico surgiu na humanidade muito antes do que se imaginava. Uma coleção de objetos, mais especificamente gravuras em pedras, datadas do Paleolítico, foram analisadas e cientistas constataram que essa pode ser a primeira evidência de atividade criativa em período no qual neandertais e outros humanos primitivos ainda andavam na Terra.
Esses desenhos foram encontrados em pedras usadas para o chamado método Levallois (método usado por humanos há cerca de 250 mil anos, onde se usava uma pedra para lascar outra de maneira mais eficiente para armas e ferramentas). Essas pedras de Levallois eram, normalmente, descartadas após o uso, porém, aparentemente, alguns indivíduos fizeram gravuras artísticas nelas.
Essa descoberta é importante para desenvolver melhor o debate sobre a capacidade de criar arte de nossos antepassados. Ela sugere que a arte era, sim, criada por humanos no meio do período Paleolítico — de 250 mil a.C. até 40 mil a.C. aproximadamente. Anteriormente, acreditava-se que a arte necessitava de um sistema cognitivo mais complexo, algo que só passou a existir com o Homo sapiens moderno.
Descoberta das gravuras
- Essas pedras desenhadas foram encontradas na Caverna Manot, onde, também, foi encontrado um crânio humano de 55 mil anos;
- Outra dessas pedras foram encontradas também na Caverna Qafzeh, onde sepultamentos humanos de 100 mil anos atrás também foram descobertos, bem como no sítio ao ar livre Quneitra, de 54 mil anos atrás. Todos esses locais se encontram no Oriente Médio;
- Usando técnicas avançadas de análise de superfícies 3D, os cientistas constataram que essas gravuras formam figuras geométricas alinhadas com a topografia da superfície, um forte indício da expressividade simbólica desses desenhos;
- Por exemplo, na pedra encontrada em Manot, “as incisões formam leque radiante de linhas orientadas em direção ao ponto alto ligeiramente suavizado na superfície de preparação”, explicam os autores em seu artigo.
“A singularidade dessas rochas gravadas e os padrões formados pelas incisões sugerem que eles são o resultado de intenção e criatividade. Esse tipo de manifestação pode ser interpretada como ato de intenção deliberada de fazer incisões e formar um padrão enquanto lasca”, acrescentam.
Por outro lado, o objeto encontrado em Quneitra é enfeitado com incisões concêntricas, desenho semelhante ao encontrado em um osso de auroque achado na região. Já o objeto de Qafzeh foi encontrado próximo a um sepultamento humano e a um depósito de ocre, sugerindo que o objeto tinha valor simbólico.
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Os pesquisadores compararam esses artefatos com outras rochas com incisões consideradas acidentais encontradas na caverna de Amud, local de sepultamento de neandertais, constatando que as incisões parecem “mais superficiais, sem orientação ou padrão claros”.
Expressão artística no homem-das-cavernas
Ao comparar as rochas encontradas em Manot, Qafzeh e Quneitra com as de Amud, os cientistas conseguiram separar as diferenças entre as incisões acidentais das artísticas. Com isso, sugerem que hominídeos do meio do paleolítico no Oriente Médio tinham pensamento abstrato.
“O pensamento abstrato é uma pedra angular da evolução cognitiva humana“, disse a pesquisadora co-líder, Dra. Mae Goder-Goldberger, em declaração. “As gravuras deliberadas encontradas nesses artefatos destacam a capacidade de expressão simbólica e sugerem uma sociedade com habilidades conceituais avançadas.”
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