UE e Canadá retaliam tarifas de Trump; Brasil pode ser o próximo?

Especialista comenta que medida dos EUA é uma espécie de negociação do preço do metal brasileiroPixabay

A União Europeia e o Canadá reagiram nesta quarta-feira (12) às tarifas de aço e alumínio anunciadas pelo presidente Donald Trump. O bloco e o país norte-americano vão aplicar taxas sobre bilhões de dólares em produtos dos EUA, incluindo o uíque bourbon e motocicletas, enquanto alertam sobre novas retaliações.

A UE afirmou que sua resposta será em duas etapas e terá como alvo cerca de US$ 28 bilhões (R$ 128 bilhões) em exportações dos EUA, enquanto o Canadá anunciou tarifas retaliatórias de 25% sobre cerca de US$ 20,7 bilhões (R$ 116 bilhões) em produtos americanos.

As taxas do exterior trouxe o questionamento ao Brasil. O país poderia aderir à retaliação aos EUA? O governo brasileiro lamentou a decisão tomada por Donald Trump.

Segundo o Ministério da Fazenda, as medidas terão impacto significativo sobre as exportações brasileiras de aço e alumínio para os EUA, que, em 2024, foram da ordem de US$ 3,2 bilhões.

“O governo brasileiro considera injustificável e equivocada a imposição de barreiras unilaterais que afetam o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos, principalmente pelo histórico de cooperação e integração econômica entre os dois países”, afirmou em nota.

Após reunião com representantes do setor da indústria do aço brasileiro, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad,  disse que pretende negociar as taxas com o governo de Donald Trump.

“O presidente Lula falou ‘muita calma nessa hora’. Já negociamos outras vezes em condições até muito mais desfavoráveis do que essa. Vamos levar para a consideração do governo americano que há um equívoco de diagnóstico”, disse Haddad.

Impactos ao mercado brasileiro

EUA foram responsáveis por 49% das exportações de aço do BrasilRedação 1Bilhão

Um estudo recém-publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) estima que a tarifa proposta pode resultar em quedas de 2,19% na produção nacional, 11,27% nas exportações de aço e 1,09% nas importações. Esse impacto significaria uma perda de exportações de US$ 1,5 bilhão e uma queda de quase 700 mil toneladas na produção de aço em 2025.

De acordo com dados do Instituto Aço Brasil, em 2022, os EUA foram responsáveis por 49% das exportações de aço do Brasil. Em 2024, o Brasil ficou atrás apenas do Canadá na venda de aço para o mercado norte-americano.

“Os Estados Unidos só têm a perder, porque nosso comércio [bilaterial] é muito equilibrado”, disse Haddad após a reunião.

Fernando Ribeiro, coordenador de Relações Econômicas Internacionais do Ipea e autor do estudo, explica: “Os Estados Unidos são um mercado essencial para o aço brasileiro”.

As importações brasileiras de carvão siderúrgico dos EUA, que somaram US$ 1,4 bilhão em 2024Redação 1Bilhão Educação Financeira

Embora o setor de aço seja fortemente afetado, o impacto macroeconômico é relativamente baixo. O estudo prevê uma redução de apenas 0,01% no PIB e uma queda de 0,03% nas exportações totais, mas um ganho de US$ 390 milhões na balança comercial, devido à diminuição nas importações, que devem cair em 0,26%.

A Amcham (American Chamber of Commerce) do Brasil comentou que a medida também pode impactar o comércio bilateral em outras áreas da cadeia produtiva do aço e alumínio, incluindo as importações brasileiras de carvão siderúrgico dos EUA, que somaram US$ 1,4 bilhão em 2024.

“A Amcham Brasil espera que os governos do Brasil e dos Estados Unidos intensifiquem de imediato os esforços para alcançar uma solução negociada que preserve o comércio bilateral e os seus benefícios para ambas as economias”, disse a instituição.

Ferramenta de barganha

Trump impõe tarifas de 25% a aço e alumínioCarl Court

O professor de Economia, Roque Neto, em entrevista ao portal iG, analisa que as taxas dos EUA sobre o Brasil são uma ferramenta de barganha usada para revisar acordos comerciais com outros países.

“É uma forma de barganhar. Eles falam que vão colocar uma taxação em cima para ver se o Brasil se manifesta para conseguir renegociar, não só os metais, mas sobre outros produtos também”, explica.

O professor acredita que a medida terá um impacto pequeno na economia brasileira e que os efeitos serão limitados no curto prazo. Ele destaca que uma das empresas que deve ser afetadas é Vale do Rio Doce, por meio das suas ações. “Em curto prazo, deve ter um impacto nas ações da Vale. Se permanecer no médio a longo prazo, será muito difícil prever as consequências do mercado, por conta do dinamismo”, disse.

Neto também comenta que a medida americana pode ser uma espécie de “blefe”, já que os EUA não têm muitas opções além do metal brasileiro. Segundo ele, a escassez de alternativas de fornecimento pode levar a um aumento no preço do aço e alumínio no mercado norte-americano, o que seria prejudicial para a economia local.

“Por exemplo, para o americano ficar caro comprar o metal brasileiro, não sei se eles têm tantas alternativas assim e se o mercado norte-americano consegue absorver todas as demandas que eles têm. Caso isso não aconteça, haverá um aumento de preço no mercado dos EUA, o que é ruim para eles. Por isso, eu acredito que isso não irá muito longe”, completou.

O aumento de tarifas também pode resultar em uma guerra comercial que prejudica ambos os lados. Neto defende que a ideia do comércio internacional é permitir que países compensem suas deficiências produtivas comprando de nações mais eficientes.  “Os EUA são mais intensivos em tecnologia e na produção industrial, então ter minério de ferro não é tão simples assim”, afirmou.

O professor conclui destacando que a China talvez seja o maior parceiro comercial do Brasil neste setor, representando um mercado mais significativo que os próprios Estados Unidos.

“Eles sabem que no Brasil, o minério de ferro é importante, pesa muito na nossa balança comercial. Entre os nossos principais parceiros nesse segmento, a China talvez seja mais relevante, em tamanho de mercado, do que os Estados Unidos”, finalizou.

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