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Conhecida como Office Core, está em ascenção a onda de incorporar, cada vez mais, elementos tradicionalmente masculinos nas coleções femininas. Esse estilo foi amplamente explorado por marcas dinamarquesas na Copenhagenn Fashion Week, que aconteceu em fevereiro desse ano. Mas, mesmo quatro meses depois, a tendência continua redefinindo a forma de se vestir para o ambiente profissional, combinando peças inspiradas na alfaiataria masculina com silhuetas femininas.
O desfile da Won Hundred apresentou o prendedor de gravata Lactuca Tie Pin, da AKVA Jewellery, um acessório escultural inspirado nas formas delicadas da alface-do-mar (Lactuca). A peça reflete a estética fluida característica da AKVA, transformando elementos orgânicos em joias metálicas refinadas.

Won Hundred Runway AW ’25
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Kristoffer Guldager Kongshaug, fundador da Forza Collective, destaca a evolução da moda em direção ao gênero fluido, com elementos tradicionalmente masculinos sendo incorporados ao vestuário feminino. “É uma abordagem unissex — não se trata apenas de roupas femininas ou masculinas. A ideia é criar peças que qualquer pessoa possa usar”, explica Kongshaug. Cerca de 20% a 30% da coleção AW25, incluindo casacos oversized e camisas de alfaiataria, foi desenvolvida para ser versátil e atender diferentes gêneros.
“Do lado feminino, estamos incorporando mais itens do guarda-roupa masculino, como os casacos militares britânicos, o que abre muitas possibilidades de design”, afirma Kongshaug. Embora a moda masculina permaneça, em grande parte, tradicional, as influências militares e da alfaiataria se adaptam naturalmente ao vestuário feminino em sua proposta.

Forza Collective Runway AW ’25
Astrid Andersen, fundadora da marca que leva seu nome, e sua nova grife, STEL, que tem apenas algumas temporadas, estão no centro dessa discussão. Formada em moda masculina, Andersen leva uma perspectiva particular para o vestuário feminino, priorizando conforto, praticidade e uma combinação equilibrada entre estética masculina e feminina. “A ideia é construir um guarda-roupa em que a mulher consiga parecer profissional e poderosa sem abrir mão do conforto”, explica. Suas coleções incluem calças de alfaiataria, casacos oversized e gravatas, peças pensadas para oferecer uma imagem de força no dia a dia.

STEL Runway AW ’25
A gravata, em especial, ganhou destaque dentro dessa tendência. Antes um acessório clássico do vestuário masculino, hoje ela aparece como um elemento que adiciona presença e autoridade às produções femininas. “Existe um poder na gravata”, afirma Felix von Bahder, diretor criativo da Deadwood, marca que cofundou com Carl Ollson. “Ela funciona como um ponto final em um look, trazendo estrutura e imponência.” A coleção mais recente da Deadwood combina gravatas com babados de inspiração pirata e jaquetas de couro, criando um contraste marcante entre os códigos masculinos e femininos.
Essa fusão de códigos vai além da estética, redefinindo o que significa vestir-se com poder tanto para mulheres quanto para homens. Andersen ressalta que “mulheres não precisam de ombros marcados ou saltos altos para alcançar o que os homens tradicionalmente expressam com um terno”. Suas peças oferecem uma visão contemporânea do profissionalismo, com modelagens ajustáveis que se adaptam às mudanças do corpo e às necessidades do cotidiano. Esse conceito está cada vez mais presente nas roupas originalmente pensadas para gêneros específicos.

Deadwood Runway AW ’25
A coleção AW25 da Marimekko também incorpora influências masculinas, ao mesmo tempo em que redefine as silhuetas femininas por meio de estruturas e proporções. “A ideia central desta coleção é partir de peças utilitárias e funcionais”, explica Rebekka Bay, diretora criativa da marca. “As referências masculinas aparecem no jeans, nos casacos tipo celeiro e nas camisas oversized, elementos que dialogam com as raízes funcionalistas da Marimekko.”
O jeans ocupa papel central, com a marca expandindo a linha lançada no ano anterior para incluir modelagens mais soltas e peças clássicas do vestuário de trabalho. “São itens que têm uma origem muito clara, todos vêm do workwear, do jeans”, explica Bay. “Continuamos produzindo essas peças com os mesmos materiais resistentes.” As jaquetas bomber também se destacam, equilibrando robustez e fluidez. “As bombers ajudam a criar esse contraste — são mais pesadas, mas ao mesmo tempo trazem uma cintura bem marcada e tecidos fluidos”, completa.

Marimekko Runway AW ’25
No MKDT Studio, a diretora criativa Caroline Engelgaar aposta em silhuetas fortes, linhas precisas e ombros estruturados, reforçando uma proposta unissex que rompe as barreiras de gênero. A coleção apresenta um cinto que se torna assinatura da marca, pensado tanto para homens quanto para mulheres, além de blazers cruzados, camisas de popeline e calças estruturadas. “Para nós, as mulheres sempre foram vistas como fortes”, afirma Engelgaar, resumindo o foco da coleção em versatilidade e empoderamento.
Os blazers acinturados, com pregas e mangas ajustadas, desafiam a alfaiataria tradicional e criam uma estética moderna e fluida, que prioriza a atitude e a funcionalidade.

MKDT Studio Runway AW ’25
A coleção AW25 da Stine Goya, que tem como tema “separação”, explora a unidade por meio da uniformidade, mesclando roupa e corpo como uma única expressão. O desfile, que aconteceu junto a uma exposição no museu Kunsten, em Aalborg, na Dinamarca, apresentou tecidos pintados diretamente nos modelos, simbolizando coesão. A abordagem combina elementos florais com casacos de inspiração militar, sugerindo uma moda livre de gênero.
Dentro dessa proposta de uniformidade, há uma referência sutil ao masculino, representado por uma forma rígida e constante que se integra ao ambiente, funcionando como um elemento fixo — uma montanha na floresta. Essa dualidade reflete o diálogo em constante evolução entre as estéticas masculina e feminina na moda contemporânea.

Stine Goya Runway AW ’25
Esse movimento acompanha uma mudança cultural mais ampla em direção à fluidez de gênero na moda. Estilistas estão, cada vez mais, adotando elementos do vestuário masculino para criar peças unissex ou centradas no público feminino, desafiando normas tradicionais. Uma das favoritas da CPHFW, Cecilie Banshen, lançou recentemente uma colaboração com a The North Face para a coleção primavera-verão 2025, que inclui roupas e bolsas com os tradicionais patches florais que são marca registrada de Banshen.
Birgitte Herskind, diretora criativa da Herskind, também adota esse caminho. “Uso tecidos muito masculinos para construir silhuetas femininas e elegantes. A ideia é trabalhar o contraste”, explica. A marca consolidou, ao longo do tempo, o chamado visual “Scandi Girl”, marcado por ternos de alfaiataria pensados para uma estética profissional.

Herskind Runway AW ’25
A coleção AW25 da A. Roege Hove redefine o tricô ao explorar a relação transformadora entre as roupas e o corpo, inspirando-se no artista interdisciplinar Franz Erhard Walther. Formas geométricas e estruturas rígidas introduzem uma estética masculina, destacando o contraste e a definição das peças. Os modelos interagem com as roupas por meio do movimento e do toque, transformando peças inicialmente estáticas em experiências orgânicas e dinâmicas.
O crescimento do Office Core e da gravata como elemento central do vestuário feminino sinaliza uma nova era, na qual o conceito de vestir-se com poder ultrapassa os limites tradicionais de gênero. A proposta combina elementos de conforto e imponência, tanto para mulheres quanto para homens. Astrid Andersen, da STEL, resume: “É sobre representação e sobre oferecer essa imagem de profissionalismo e força para as mulheres de uma maneira que seja autêntica.”

A. Roege Hove Runway ’25
O ressurgimento da Alis mistura o DNA do streetwear dos anos 1990 com técnicas de produção contemporâneas, tornando a marca relevante para um público que não se define por gênero. Originalmente ligada às subculturas do skate e do hip-hop em Copenhague, a Alis estava em um período de baixa, o que motivou um retorno estratégico para resgatar sua herança. Tobias Birk Nielsen, diretor criativo, explica: “A Alis começou em 1995 e se tornou um grande movimento dentro das subculturas do skate e do hip-hop, especialmente em Copenhague”.
A nova coleção equilibra nostalgia e inovação, incorporando estampas clássicas e modelagens tradicionais, além de técnicas de tingimento atuais e efeitos visuais inspirados na cultura dos cafés. Elementos do sportswear costuram a coleção, oferecendo uma proposta que é, ao mesmo tempo, familiar e atual. “Ficamos muito satisfeitos com o resultado dos degradês e das calças esportivas, além dos coletes, jaquetas puffer e croppeds.”

Alis Runway ’25
Segundo Nielsen, “essa retomada é sobre redefinir a Alis para uma nova geração, sem perder aquilo que a tornou relevante. Não se trata apenas de moda, mas de cultura, comunidade e de criar algo que faça sentido para as pessoas hoje.”
Em um cenário em que a moda se torna cada vez mais fluida, a gravata, entre outros elementos da alfaiataria, retorna como símbolo — como exemplificado por Kamala Harris — na discussão sobre os papéis de gênero. Para mulheres em todo o mundo, ela pode representar força, versatilidade e a possibilidade de ressignificar o que significa vestir-se para o sucesso, como tradicionalmente faziam os homens.
O crescimento do vestuário feminino com influência masculina reflete uma nova definição de elegância, baseada em força, estrutura e adaptabilidade. Ao mesclar a precisão da alfaiataria com a fluidez dos tecidos, designers como Engelgaar e Goya constroem uma nova narrativa, na qual o empoderamento surge da combinação dos contrastes e da superação de limites tradicionais.
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