Se você ainda não ouviu falar em Bad Banny, não se preocupe, oportunidades não faltarão. O cantor e compositor porto-riquenho faz sucesso nos Estados Unidos e em muitos países da América Latina de língua espanhola, o que fez dele, segundo o Spotify, o artista latino mais ouvido no ano passado, cantando trap latino e reggaeton. No Brasil, seu talento começa a ganhar espaço e, em breve, tudo indica, será visto como um astro da música jovem também bastante conhecido entre nós.
Bad Banny, que nasceu Benito Antonio Martinez Ocasio em Porto Rico, está com 30 anos de idade e nove de carreira, tempo suficiente para ter atingido marcas consideráveis como onze Latin Grammy Awards, dez Billboard Music Awards, três Grammy Awards, dois MTV Video Music, entre outras.
Atualmente, o que mais tem marcado a trajetória de Banny não são esses números, mas sua postura consciente e engajada na defesa da cultura, da língua e das tradições de sua Porto Rico, estado livre associado aos Estados Unidos.
A preocupação maior do cantor é que sua querida ilha, terra que também é o berço de José Feliciano, Ricky Martin, Luis Fonsi e Pedro Capó, se torne uma espécie de Hawaii, um território cada vez mais alienado de suas origens.
Isso se reflete claramente em seu novo trabalho disponível nos tocadores: Debí tirar más fotos, uma seleção de temas que alertam para esse perigo, assim como procuram despertar uma atitude mais consciente na preservação cultural do país.
Vídeo
O lançamento do álbum, no início deste ano, foi precedido por um curta metragem de treze minutos, protagonizado por Jacobo Morales, um dos principais atores e diretores de cinema de Porto Rico, atualmente com 90 anos. No vídeo, temos a história de um homem idoso que conversa com seu amigo Concho, um sapo típico da ilha, espécie ameaçada de extinção, recordando um tempo que não existe mais, mas que para ele e os seus é bastante caro. Além disso, lamenta não ter feito um número maior de fotos, pois elas ajudariam a reviver esse tempo passado. Em paralelo é mostrado o choque cultural pelo qual passa a ilha, devido à influência estadunidense.
O álbum
Debí tirar más fotos, que numa tradução livre para o português significa “Deveria ter feito/tirado mais fotos”, reúne 17 músicas que mostram esse resgate cultural das origens porto-riquenhas. Destacamos aqui três delas, começando pela que abre o álbum: “Nuevayol”, título que remete a como os latinos chamam a cidade de Nova York. A faixa inicia com a apresentação de um sample da música “Un Verano En Nueva York”, de Andy Montañez e El Gran Combo de Puerto Rico, evoluindo para um reggaeton bem salseiro. Trata-se de uma homenagem a uma musicalidade mais antiga. Ainda dentro de uma sonoridade mais tradicional, temos “Café con ron”, faixa que conta com o grupo Los Pleneros de la Cresta, dando um certo sabor folclórico, principalmente por sua sonoridade percussiva.
No terceiro destaque, que encerra o álbum Debí tirar más fotos, Bunny apresenta a música “La mudanza”, uma crônica que semeia uma nova atitude de resistência, materializada pelos versos: “Aquí mataron gente por sacar la bandera, por eso es que ahora yo la llevo donde quiera” (Aqui mataram pessoas por mostrarem a bandeira, por isso agora eu a levo para onde quiser). Um convite ao povo porto-riquenho para que tenha orgulho de suas origens.
Em todas as faixas há uma característica comum, são músicas que convidam às pistas de dança, além de ter letras que fazem pensar, algo não tão presente no gênero reggaeton. Está aí um dos motivos do sucesso de Bad Bunny. Vida longa a seu talento.
Esta coluna é um espaço destinado à cultura e músicas latinas. Mais informações sobre esses temas você encontra em www.ondalatina.com.br e no Canal Onda Latina: https://www.youtube.com/@canalondalatina