O secretário-geral da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Mark Rutte, declarou nesta terça-feira (15) que Brasil, China e Índia podem ser alvo de sanções secundárias dos Estados Unidos caso continuem mantendo relações comerciais com a Rússia.
A declaração foi feita durante reunião com senadores norte-americanos no Congresso dos EUA, como parte de uma ofensiva para isolar economicamente Moscou.
Segundo Rutte, as sanções estão vinculadas à proposta do presidente dos EUA, Donald Trump, que estabeleceu um prazo de 50 dias para que a Rússia aceite negociar um cessar-fogo na guerra com a Ucrânia.
Caso o prazo não seja cumprido, os EUA aplicarão tarifas de até 100% sobre produtos russos, com impacto direto sobre países que continuam importando petróleo, diesel e outros itens russos.
Em sua fala, Rutte afirmou que líderes de países como Brasil, China e Índia deveriam considerar os efeitos da medida.
“Se você mora em Pequim, Nova Délhi ou é o presidente do Brasil, talvez queira dar uma olhada nisso, porque pode atingi-lo com muita força”, declarou.
A proposta tem apoio de senadores como Lindsey Graham e Richard Blumenthal, que defenderam tarifas ainda mais elevadas — de até 500% — para países que mantiverem a compra de petróleo russo.
As medidas têm como objetivo punir economicamente não apenas a Rússia, mas também países e empresas que, embora fora do conflito direto, sustentam a economia russa por meio do comércio.
O Brasil figura entre os maiores compradores de diesel da Rússia em 2024, atrás apenas da Turquia, com volume de comércio bilateral de US$ 12,4 bilhões no último ano. Houve aumento de 8% nas exportações brasileiras para a Rússia e de 9% nas importações.
Entre os setores brasileiros mais expostos às possíveis sanções estão o agronegócio e o energético.
A agricultura nacional depende da importação de fertilizantes russos, enquanto o setor de transportes e combustíveis importa diesel para abastecimento interno.
O encarecimento desses produtos pode ter efeitos sobre os custos de produção e as cadeias de suprimento.
O posicionamento dos EUA e da OTAN ocorre em um momento de intensificação dos laços comerciais entre a Rússia e os países do BRICS.
Desde 2022, com o aumento das sanções ocidentais, Moscou tem ampliado suas exportações de petróleo e derivados para Brasil, China e Índia, o que sustenta parte de sua receita externa.
O Brasil tem defendido, em foros internacionais, uma solução negociada para o conflito, em consonância com a posição chinesa.
Essa postura difere da estratégia adotada pelos países da OTAN, que têm ampliado o envio de armamentos à Ucrânia e pressionado por sanções econômicas contra a Rússia e seus parceiros comerciais.
Além da ameaça econômica, Trump anunciou o envio de armamentos avançados à Ucrânia, incluindo sistemas de defesa aérea Patriot, com financiamento de países da OTAN.
A movimentação combina pressão militar com medidas econômicas, e busca reduzir a capacidade da Rússia de sustentar o esforço de guerra.
Caso aplicadas, as sanções secundárias podem gerar efeitos econômicos e diplomáticos para o Brasil, que se vê diante de um cenário de escolha entre a manutenção de relações comerciais estratégicas e o risco de retaliações por parte dos EUA.