Recentemente, o Governo Federal anunciou medidas para baixar os preços dos alimentos, incluindo a redução das tarifas de importação para itens como carne, café, açúcar e milho.
Além do anúncio, outro fator que pode impactar os preços é a frente fria – que, apesar de perder força em alguns estados, ainda está presente no Sul do Brasil, principalmente.
Marcello Marin, contador, administrador e especialista em Recuperação Judicial, explica, em entrevista ao Portal iG, como o frio pode afetar a produção dos alimentos.
“Temperaturas muito baixas podem afetar lavouras sensíveis, como hortaliças, frutas e até grãos, reduzindo a oferta e pressionando os preços para cima. Além disso, o aumento do consumo de determinados produtos típicos do frio, como laticínios e carnes, pode elevar os preços desses itens. A logística também pode ser afetada, com dificuldades no transporte e abastecimento em algumas regiões”, comenta o especialista.
Larry Carvalho, advogado especialista em agronegócios e logística marítima, relata quais locais do Brasil, se atingidos pela frente fria, podem desencadear mudanças nos preços.
“A possibilidade de geadas em determinadas regiões pode prejudicar lavouras e aumentar custos para os produtores, que podem repassar esses custos ao consumidor. O impacto pode ser maior se a frente fria atingir áreas de produção relevantes, como o Centro-Sul do Brasil”, analisa Carvalho em entrevista ao Portal iG.
Redução de impostos resolve?

As medidas anunciadas pelo Governo Lula geraram reações divergentes entre especialistas e o setor agropecuário.
A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) criticou as ações, classificando-as como “pontuais e ineficazes”, argumentando que o principal fator inflacionário é o desequilíbrio fiscal e não a oferta de alimentos.
Para Marcello Marin, a redução de impostos, especialmente sobre importações, pode oferecer um alívio temporário nos preços de alguns alimentos, mas, no curto prazo, seu impacto tende a ser limitado.
“O preço final não depende só do imposto: tem transporte, câmbio, demanda global e margens de lucro envolvidas. Além disso, se a estrutura logística e a oferta interna não estiverem bem ajustadas, a queda de preços pode ser pequena ou temporária”, afirma.
Já Larry Carvalho acredita que a redução pode ter impacto, principalmente, em produtos que têm alta elasticidade de oferta e fazem parte da cesta básica.
“Se a oferta externa for suficientemente competitiva e os importadores conseguirem repassar integralmente a redução tarifária ao consumidor, a medida pode ajudar a conter a inflação de curto prazo”, destaca.
No entanto, o especialista ressalta que a redução das tarifas de importação não é uma solução definitiva para a inflação.
“A inflação tem múltiplos fatores determinantes, como os custos de transporte, a volatilidade cambial e choques climáticos. A redução tarifária pode ser um instrumento auxiliar, mas não uma solução definitiva”, alerta.
Além disso, Marin alerta que o governo pode perder uma importante fonte de arrecadação ao reduzir ou zerar impostos sobre importações, especialmente em um cenário de déficit fiscal elevado.
“Quando os impostos sobre importação são reduzidos ou zerados, o governo deixa de arrecadar uma receita importante, justamente em um momento em que as contas públicas já estão no vermelho”, explica.
Carvalho destaca que a medida, no entanto, também pode gerar efeitos colaterais, como a concorrência desigual para os produtores nacionais. Quando os impostos sobre os produtos importados são reduzidos, os produtores locais enfrentam dificuldades para competir com produtos estrangeiros de menor custo, especialmente em setores onde os custos de produção no Brasil já são elevados.
Outro ponto levantado por Marin é que a redução de impostos pode não necessariamente se traduzir em preços mais baixos para os consumidores. Importadores e varejistas podem absorver parte da redução sem repassá-la completamente ao público.
Já Carvalho ressalta que se a isenção ou redução for aplicada de forma ampla e por um período prolongado, pode desincentivar os investimentos no setor produtivo nacional e aumentar a dependência do Brasil de fornecedores externos para certos alimentos.
Além dos alimentos

Segundo o site Climatempo, a frente fria deve avançar pelo litoral de São Paulo ainda durante a segunda-feira (10) e alcançar a costa do Rio de Janeiro já na terça-feira (11). O aumento da nebulosidade e a volta das pancadas de chuva vão fazer a temperatura baixar.
Já o Agroclima destaca que as lavouras de feijão segunda safra no Rio Grande do Sul estão em fase de desenvolvimento vegetativo. Elas podem ser beneficiadas pelas chuvas e a umidade do solo.
Marin comenta que a preocupação da economia vai além do clima. Para ele, cada região do Brasil pode ter benefícios ou malefícios com a mudança climática.
“O aumento do consumo de energia, por exemplo, pode pressionar o sistema elétrico e encarecer a conta de luz. O setor de vestuário e aquecimento pode se beneficiar, enquanto o turismo pode sofrer, dependendo da região. Ou seja, o frio não afeta só o conforto das pessoas, mas mexe diretamente na dinâmica da economia”, ressalta.
Já Carvalho faz uma análise de quais setores podem ser afetados, incluindo agricultura, setor energético, logística e varejo:
Agricultura: redução da produtividade e aumento dos custos de produção devido à necessidade de medidas de proteção para culturas vulneráveis. Isso pode elevar os preços de produtos agrícolas no mercado interno.
Setor energético: o aumento do consumo de energia elétrica para aquecimento pode pressionar o sistema elétrico, levando a reajustes tarifários e maior custo para indústrias e consumidores.
Logística e transporte: chuvas e temperaturas extremas podem prejudicar a circulação de mercadorias, atrasando entregas e elevando os custos logísticos.
Varejo e serviços: mudanças bruscas de temperatura podem impactar setores como vestuário e turismo, alterando padrões de consumo.
”Dessa forma, frentes frias podem ter repercussões amplas, exigindo monitoramento por parte do governo e agentes econômicos para mitigar impactos negativos”, analisa.