Com apenas 21 anos, o influenciador digital Garel do Mel comemora em 2024 a conquista de ser o lojista mais novo do Brasil. Natural de Fortaleza, capital do Ceará, ele começou a trabalhar como vendedor na loja de automóveis da família.
A ideia de produzir vídeos para as redes sociais apareceu como estratégia para atrair clientes, retratando a rotina de lojista com um tom humorístico, o que atraiu atenção dos internautas.
Uma vez viralizado, Garel (batizado Gabriel Araújo dos Reis Maia) decidiu seguir como influenciador digital e investiu em se tornar uma figura representante do movimento cria de condomínio, termo usado para referir a uma pessoa nascida em condomínios fechados, geralmente de classe média alta que desconhece a realidade à sua volta. Este estereótipo foi abraçado pelo influenciador apenas no nome, que desafiou as “normas” ao usar recursos atribuídos ao seu oposto (o cria de favela) em seus conteúdos.
Um destes recursos foi a aproximação com o funk, gênero musical pelo qual sempre foi apaixonado. Assim, o cria de condomínio, que antes fazia vídeos sobre a rotina de um jovem vendedor de automóveis, evoluiu para um tom mais pessoal: ele aparece no trabalho, com a família, amigos e, claramente, se divertindo.
O impacto de Garel chegou a mais de 315 mil seguidores no Instagram, com 60 mil curtidas no feed do Instagram, 200 mil visualizações nos stories e 1 milhão de alcance em Reels e vídeos no YouTube, além de investir em conteúdos voltados para o TikTok.
Sua relação com o funk também rendeu frutos ao influenciador: Garel fechou parcerias com figuras conhecidas no gênero musical, como MC Ryan SP, MC IG, Maumau da ZK, Toguro, Buzeira e Gordão da XJ. Em julho deste ano, o cearense fez uma participação especial no clipe da parceria de MC Ryan SP e MC IG, Pra Roncar Tem Que Desbicar. O videoclipe, disponível no YouTube, já passa das 5 milhões de visualizações.
Importado ao Brasil em meados da década de 1970, o funk é um ritmo que surgiu nos Estados Unidos com uma sonoridade bem diferente do que conhecemos hoje. Nascido entre os anos 1950 e 1960, o gênero musical é derivado da soul music – que por sua vez deriva do blues, tendo como maiores representantes James Brown e Marvin Gaye –, e caracterizado pelas batidas envolventes, letras repetitivas e grooves.
O termo funk, que possuía conotação sexual, logo ganhou um novo significado à medida que o ritmo conquistou os EUA. A canção Papa’s Got a Brand New Bag, lançada em 1965 por James Brown, é mundialmente conhecida como a canção seminal do funk.
Chegando no Brasil durante aquela época, o ritmo logo atraiu artistas como Tim Maia (1943-1988), Tony Tornado, e disseminado por radialistas como Big Boy (1943-1977), que precedeu os conhecidos bailes funk na região do Botafogo, no Rio de Janeiro. O funk como conhecemos começou a ganhar traços durante os anos 1980, por meio do DJ Marlboro, responsável por adicionar as batidas eletrônicas características do gênero no Brasil.
O primeiro disco de funk carioca (ou o tradicional funk brasileiro) foi lançado por Marlboro em 1989, intitulado Funk Brasil. Neste trabalho, além da sonoridade semelhante à atual, o DJ já indicava as tendências líricas que dominariam o gênero: a realidade das periferias no país, especialmente no Rio de Janeiro, onde o ritmo ganhou força.
Com o impacto do disco, o funk ganhou força em outras localidades na década de 1990, originando as ramificações conhecidas atualmente: o funknejo, bregafunk, trapfunk, pancadão e a rave.
Atualmente, o funk é um dos gêneros musicais mais escutados do Brasil, ocupando três das cinco músicas mais escutadas de 2024 no Spotify. Além disso, o ritmo foi declarado Patrimônio Cultural em diversos estados do país, incluindo o Rio de Janeiro, e o disco Funk Generation, da popstar Anitta, recebeu indicação ao Grammy 2025 na categoria Melhor Álbum Pop Latino, competindo com produções de Shakira, Luís Fonsi, Kany Garcia e Kali Uchis.