Por que o dólar perdeu força como porto seguro em cenário global

O corte de juros real ou potencial reduz a atratividade de manter ativos em dólarReprodução

O dólar teve, entre 2024 e o início deste ano, o pior desempenho cambial em mais de 50 anos, registrando queda frente a diversas moedas globais, mesmo em um ambiente com guerra no Oriente Médio, tensões com a China, incertezas eleitorais nos Estados Unidos e instabilidade nos mercados.

Segundo o economista Bruno Corano, da Corano Capital, em entrevista ao Portal iG, esse comportamento marca uma exceção histórica.

“Normalmente, em momentos de incerteza, os investidores correm para ativos líquidos e confiáveis — e o dólar lidera esse movimento”, afirmou Corano.

“Desta vez, isso não aconteceu porque, de forma concreta, não existe uma crise relevante. Os conflitos armados em andamento não estão interferindo nas cadeias produtivas ou de abastecimento, nem mesmo no petróleo.”

Corano observa que o dólar continua sendo a moeda dominante no comércio internacional, nas reservas cambiais e na emissão de dívida soberana. No entanto, ele ressalta que sua hegemonia está sendo gradualmente contestada.

“Em 2001, 73% das reservas globais estavam em dólar. Hoje, esse número caiu para menos de 58%, e segue diminuindo”, disse.

Mudanças de comportamento

Entre julho de 2024 e os primeiros meses deste ano, o dólar perdeu valor frente a diversas moedasValter Campanato/Agência Brasil

Entre julho de 2024 e os primeiros meses deste ano, o dólar perdeu valor frente a diversas moedas, mesmo com a permanência de fatores que, historicamente, reforçariam sua posição como refúgio. Corano atribui a mudança de comportamento a quatro fatores principais.

“O primeiro é a sinalização do Federal Reserve de que o ciclo de aperto monetário está no fim. Já foram iniciados cortes nos juros após dois anos de alta agressiva. Isso reduz o atrativo do dólar, já que investidores buscam rendimento em moedas com taxas mais altas”, explicou.

O segundo fator é a desaceleração da economia dos Estados Unidos. “O setor imobiliário deu sinais de enfraquecimento, o consumo perdeu força, e os dados do mercado de trabalho vieram mistos. Isso reduziu a percepção de força econômica americana”, disse o especialista.

Ele também apontou que a inflação está controlada nos EUA, enquanto países como Canadá, Austrália, zonas do euro e até alguns emergentes mantiveram juros elevados.

“Com isso, o diferencial de juros, que antes favorecia o dólar, foi neutralizado ou até revertido em alguns casos”, completou.

A instabilidade política interna nos EUA completa o conjunto de fatores, segundo Corano. “Há risco de um segundo governo Trump, disputas em torno do teto da dívida e forte polarização institucional. Isso tudo afeta a percepção de estabilidade dos EUA no cenário internacional.”

Apesar da atual fragilidade da moeda americana, Corano não vê substituto imediato. “O dólar ainda domina mais de 80% das transações cambiais globais. Mas há movimentos em andamento: blocos regionais, acordos bilaterais e o avanço da China têm pressionado a sua posição.”

Na avaliação dele, a combinação entre expectativa de cortes de juros, desaceleração econômica, juros elevados em outras regiões e crise de credibilidade política tem impulsionado a realocação de portfólios.

“Com a taxa real de juros caindo nos EUA, o mercado está se movendo para moedas que oferecem rendimento mais alto com estabilidade. Isso explica a saída parcial do dólar”, concluiu.

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