Trump pode voltar atrás nas tarifas ao Brasil?

A retórica adotada por Trump repercutiu na polarização interna brasileiraJoyce N. Boghosian/White House

A adoção de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros pelos Estados Unidos, anunciada por Donald Trump com vigência a partir de 1º de agosto, provocou reações imediatas no Brasil e abriu espaço para dúvidas sobre a estabilidade da medida.

A declaração do ex-presidente americano foi acompanhada de críticas ao STF (Supremo Tribunal Federal) e de apoio explícito a Jair Bolsonaro (PL), réu por tentativa de golpe nas eleições de 2022. O teor da carta enviada por Trump ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) indica que o movimento tem motivações predominantemente políticas.

Entre os argumentos citados por Trump, estão acusações de “censura ilegal” a plataformas americanas de redes sociais por decisões do STF e a suposta “perseguição judicial” a Bolsonaro, que o republicano classificou como um “líder altamente respeitado”.

O boletim do Deutsche Bank observa que, embora o comércio seja o tema oficial da tarifa, o conteúdo da carta e o momento político apontam para uma medida com uso político direto.

A retórica adotada por Trump repercutiu na polarização interna brasileira. Enquanto o governo Lula acusa a oposição bolsonarista de colaborar com a medida ao endossar a carta americana, aliados de Bolsonaro responsabilizam o STF e o governo federal pelas consequências econômicas.

O governo brasileiro anunciou que poderá usar a Lei de Reciprocidade Econômica, sancionada em abril, para aplicar retaliações, embora nenhuma medida específica tenha sido formalizada.

No campo econômico, os Estados Unidos são o segundo principal destino das exportações brasileiras, responsáveis por 12% do total em 2024 — cerca de US$ 40,4 bilhões.

Os setores mais expostos incluem petróleo, café, suco de laranja, carne bovina, aço e aviação. Uma tarifa de 50% tende a tornar esses produtos menos competitivos, com possível perda de mercado, redução de empregos e pressão sobre o câmbio.

Apesar da justificativa apresentada por Trump de combater um suposto desequilíbrio comercial, dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços mostram que os EUA têm superávit com o Brasil desde 2009, acumulando US$ 43 bilhões em dez anos.

O Deutsche Bank classifica o anúncio como inesperado, tanto pelo nível da tarifa quanto pela motivação não econômica, e aponta que as medidas afetam entre 55% e 60% das exportações nominais brasileiras aos EUA.

Trump pode recuar?

Donald TrumpLibrary of Congress/Unsplash

A advogada Teresa Meyer, mestre em Direito Tributário Internacional, avalia que há chance de recuo por parte de Trump.

“As reações e medidas do Trump costumam seguir a sua própria lógica e são de pouca previsibilidade. Ainda assim, considerando os eventos passados, pode-se entender que há chances sim de que o Trump volte atrás com as tarifas ao Brasil”, afirma ao Portal iG.

Se a medida for mantida, Meyer aponta que o impacto dependerá de como os mercados vão se reorganizar. Os EUA já produzem internamente parte dos produtos afetados, como carne bovina e madeira, mas ainda mantêm a importação brasileira.

“O Brasil é um relevante parceiro comercial dos EUA. Exportamos commodities como café, carne, suco de laranja, petróleo, madeira, derivados de aço e ferro, e também produtos industrializados como equipamentos, motores, eletrônicos e aeronaves. O impacto dessas medidas ao longo prazo para o Brasil passa por uma análise de (i) quem passará a vender esses produtos para os EUA e (ii) que mercados podem absorver os nossos produtos que possivelmente deixem de ser exportados aos EUA”, explica.

Ela destaca que, para itens como café, suco de laranja e carne bovina, o Brasil é o maior produtor mundial, o que pode limitar a substituição por outros fornecedores.

“Aqui é interessante pensar que em alguns desses produtos os EUA já é o maior produtor e ainda assim precisou da importação do Brasil, como é o caso, por exemplo, da carne bovina e da madeira. Além disso, tem produtos como o café, suco de laranja e a própria carne bovina, que o Brasil é o maior produtor do mundo, e a alternativa de parceiro comercial dos EUA talvez seja outros países taxados, como é o caso da China”, acrescenta.

O boletim do Deutsche Bank ressalta ainda que as exportações para os EUA representam cerca de 2% do PIB brasileiro, mas quase 18% das exportações da indústria de transformação têm como destino o mercado americano.

Além das exportações, os EUA também são fonte relevante de investimentos diretos no país e detêm parte significativa de ações e títulos brasileiros.

A carta tarifária norte-americana é a primeira do tipo enviada a um país com o qual os EUA mantêm superávit comercial. O impasse poderá se prolongar, a não ser que a Justiça americana barre as tarifas, o que pode ocorrer até 31 de julho.

Segundo o Deutsche Bank, a tensão é agravada pelos laços comerciais e diplomáticos recentes entre Brasil e China, como a adesão à Iniciativa Cinturão e Rota e o projeto ferroviário entre os oceanos Atlântico e Pacífico.

Enquanto isso, a cotação do real foi afetada com a notícia, embora os mercados tenham reagido posteriormente com menor probabilidade de que a tarifa seja efetivamente implementada. O desempenho futuro da moeda brasileira permanece vulnerável às decisões políticas em Washington.

“A resposta sobre o impacto a longo prazo ao Brasil ainda não é clara, mas com certeza vai depender do setor e produto exportado”, conclui Teresa.

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