O anúncio de tarifas entre 25% e 40% feito pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nesta segunda-feira (7), tem como objetivo central pressionar países a firmarem acordos bilaterais sob termos considerados mais favoráveis à indústria americana.
A medida, segundo especialistas, combina motivações econômicas, estratégicas e políticas, com potencial de impacto no comércio internacional e no crescimento global.
O economista Leonardo Ramos avalia que as novas tarifas se inserem em uma estratégia de reindustrialização. “Trump quer reindustrializar os EUA. O problema é que a mão de obra e a infraestrutura lá são mais caras que na China, por exemplo”, afirmou ao Portal iG.
Segundo ele, ao aumentar o custo das importações, o governo busca incentivar a produção interna. Ramos alerta, no entanto, que os custos podem recair sobre os consumidores.
“Estudos apontam que os consumidores americanos absorvem entre 80% a 90% do custo dessas tarifas, já que os importadores repassam os aumentos”.
Ainda de acordo com Ramos, a medida pode elevar a inflação nos EUA entre 0,5 e 1 ponto percentual. Isso obrigaria o Federal Reserve a manter ou até elevar americana.
O impacto direto seria o encarecimento de bens de consumo como automóveis, eletrônicos e vestuário, especialmente os importados de países como Japão e Coreia do Sul.
No plano internacional, o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial alertam para os riscos de desaceleração econômica global.
A imposição de tarifas é vista por essas instituições como um fator de pressão sobre países com forte dependência das exportações. No caso do Japão, a expectativa é de que as medidas levem à redução de 0,8% no Produto Interno Bruto.
Questões geopolíticas
O especialista em Relações Internacionais Caio Silva Magalhães avalia que, além do efeito econômico, as tarifas têm repercussão geopolítica.
“Japão e Coreia do Sul são parceiros estratégicos dos EUA na Ásia. Isso pode enfraquecer o poder norte-americano no continente, fortalecendo ainda mais a China”, afirmou.
Ele também questiona os fundamentos da medida. “Trump alega que está sofrendo um déficit comercial por ter uma relação desproporcional com esses países taxados. Porém, os EUA são mais influenciados por fatores macroeconômicos do que por acordos comerciais. A imposição de tarifas pode simplesmente desviar o comércio para outros países”.
Para Magalhães, a estratégia adotada pelo governo norte-americano visa ampliar sua margem de manobra em negociações.
“Trump quer aumentar a pressão sobre muitos países para negociar e ter vantagens comerciais. É uma estratégia arriscada, mas pode funcionar. Os EUA seguem como a maior potência do mundo, então têm muito cartucho”, disse.
As cartas enviadas pelo governo americano às nações afetadas indicam que qualquer retaliação tarifária pode resultar em novas alíquotas ainda mais altas.
Também sugerem que empresas estrangeiras instalem fábricas nos Estados Unidos como forma de evitar as tarifas, com promessa de aprovações regulatórias rápidas.
A base legal para a imposição das tarifas está ancorada na Lei de Expansão Comercial e na IEEPA (Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional).
Embora o uso da IEEPA esteja sendo questionado judicialmente, o governo argumenta que os déficits comerciais representam ameaça à segurança nacional.
O impacto das tarifas também foi refletido nos mercados financeiros. Após o anúncio, os índices S&P 500, Dow Jones e Nasdaq registraram quedas entre 1,2% e 1,4%.
O índice Nikkei 225, do Japão, chegou a cair 7,8% ainda em abril, quando a proposta tarifária foi apresentada pela primeira vez. No consumo interno dos EUA, os efeitos podem ser sentidos com o aumento de preços em diversos setores.

A medida alcança países como Japão, Coreia do Sul, Malásia, Cazaquistão, África do Sul, Laos e Mianmar, com alíquotas entre 25% e 40%.
A tarifa entra em vigor em 1º de agosto para os países que não firmarem acordos bilaterais até essa data. O governo americano ainda ameaça sobretaxar países alinhados com políticas do bloco BRICS, incluindo Brasil, Rússia, China e África do Sul.
Para os analistas ouvidos, o anúncio se insere num contexto de reposicionamento estratégico dos EUA, com foco em renegociar sua presença comercial global.
As consequências, no entanto, ainda dependem das reações dos países afetados e da resposta dos mercados ao novo cenário.